Relatório 105

De 25 a 31/8

Temas:

  • Fiscalização das emendas parlamentares
  • PEC da blindagem
  • Megaoperação
Realização:
Apoio:
Metodologia

O Monitor da Extrema Direita (MED) se transformou no Monitor do Debate Público (MDP). Na verdade, foi uma expansão do projeto original, que contemplava somente grupos focais contínuos de bolsonaristas convictos e moderados. Tornamos mais complexa a combinação dos critérios de seleção de participantes para produzir quatro categorias de grupos:

G1 – Bolsonaristas Convictos: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, aprovam as invasões de 08/01, acreditam que o ex-presidente é perseguido pelas instituições e não assistem à Rede Globo.

G2 – Bolsonaristas Moderados: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, desaprovam as invasões de 08/01, não há consenso sobre o ex-presidente ser perseguido pelas instituições e não rejeitam a Rede Globo.

G3 – Preferências Flutuantes: votaram Branco/Nulo no segundo turno, mas em outros candidatos no primeiro turno. Os demais critérios são diversos.

G4 – Lulodescontentes: votaram em Lula no segundo turno, mas reprovam a atual gestão. Os demais critérios são diversos.

G5 – Lulistas: votaram em Lula no segundo turno e aprovam sua gestão. Os demais critérios são diversos.

Dessa maneira, o novo Monitor do Debate Público (MDP) será capaz de captar um escopo bem mais amplo da opinião pública e dos fenômenos que regem o comportamento político no Brasil de hoje.

Nossa metodologia permite que os participantes respondam aos temas colocados no tempo que lhes for mais conveniente, liberdade essa inexistente nos grupos focais tradicionais, que são presos à sincronia do roteiro de temas e questões colocados pelo mediador. O instrumento de pesquisa, assim, se acomoda às circunstâncias e comodidades da vida de cada um, reduzindo a artificialidade do processo de coleta de dados e, portanto, produzindo resultados mais próximos das interações reais que os participantes têm na sua vida cotidiana.

É importante salientar que os resultados apresentados são provenientes de metodologia qualitativa, que tem por objetivo avaliar posicionamentos e opiniões. Mesmo quando quantificados, tais resultados não podem ser tomados como dados estatísticos provenientes de amostragem aleatória, ou seja, as totalizações dos posicionamentos de grupos específicos não devem ser entendidas como dotadas de validade estatística mas como dado indicial.

O sigilo dos dados pessoais dos participantes é total e garantido, assim como sua anuência com a divulgação dos resultados da pesquisa.

Síntese dos Principais Resultados

Entre os dias 25 a 31/8, cinco grupos foram monitorados a partir de suas opiniões sobre questões candentes do debate público. Compõem esses grupos 50 participantes. Todos os grupos foram montados de modo a combinar variáveis como sexo, idade, etnia, renda, escolaridade, região de moradia e religião em proporções similares às da população brasileira.
Cada grupo possui características únicas. São elas:
G1 – Bolsonaristas Convictos: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, aprovam as invasões de 08/01, acreditam que o ex-presidente é perseguido pelas instituições e não assistem à Rede Globo.
G2 - Bolsonaristas Moderados: votaram em Bolsonaro no segundo turno, desaprovam o atual governo, desaprovam as invasões de 08/01, não há consenso sobre o ex-presidente ser perseguido pelas instituições e não rejeitam a Rede Globo.
G3 – Preferências Flutuantes: votaram Branco/Nulo no segundo turno, mas em outros candidatos no primeiro turno. Os demais critérios são diversos.
G4 – Lulodescontentes: votaram em Lula no segundo turno, mas reprovam a atual gestão. Os demais critérios são diversos.
G5 - Lulistas - votaram em Lula no segundo turno e aprovam a atual gestão. Os demais critérios são diversos.
Evangélicos - Compusemos também um "grupo virtual" formado pela agregação das falas dos participantes evangélicos, a fim de capturar tendências específicas da opinião desse contingente demográfico.

Ao longo do período, três temas foram abordados: i) decisão de Flávio Dino para investigar 964 planos de trabalho de emendas parlamentares individuais; ii) opiniões sobre a PEC da Blindagem; iii) avaliações da megaoperação "Carbono Oculto", que investiga desvio de verbas e fraudes do PCC e outras instituições.

Ao todo, foram analisadas 163 interações, que totalizaram 5.578 palavras

Bolsonaristas Convictos Bolsonaristas Moderados Eleitores Flutuantes Lulodescontentes Lulistas Evangélicos
Imposição de Dino Houve divisão entre quem considerava a decisão correta e necessária para investigar irregularidades e quem via a atuação de Dino como movida por segundas intenções, marcada pela desconfiança ideológica. A maioria aprovou a investigação como essencial para garantir transparência, mas prevaleceu o receio de que ela poderia ser usada de forma seletiva em disputas políticas. Predominou a percepção de que a medida estava alinhada ao papel do ministro e deveria fortalecer o combate à corrupção, embora houvesse desconfiança residual quanto à imparcialidade. O grupo valorizou a fiscalização como passo mínimo para reduzir desvios, mas manteve certa descrença estrutural, entendendo a ação como paliativa diante da corrupção endêmica. As falas foram fortemente positivas, exaltando Dino como exemplo de coragem e transparência, com expectativa de que sua atuação limite a impunidade e traga fiscalização efetiva. Os participantes elaboraram suas respostas de acordo com seu grupo de pertencimento.
PEC da Blindagem Predominou o apoio à PEC como reação à percepção de perseguição política vinda do Judiciário, especialmente contra a direita, ainda que com reconhecimento de que poderia favorecer corruptos. O grupo ficou dividido: parte defendeu a PEC como precaução contra abusos do Judiciário, enquanto outros a criticavam por ampliar privilégios e impunidade dos parlamentares. Houve rejeição quase unânime, com a PEC sendo vista como instrumento de legalização do crime, aumento da corrupção e ataque direto à democracia. Predominou a indignação, com a proposta interpretada como símbolo de impunidade, abuso de poder e acúmulo de privilégios, em contradição aos princípios democráticos. O grupo rejeitou fortemente a medida, apontando-a como tentativa explícita de autoproteção, impunidade e afastamento ainda maior entre políticos e cidadãos. Os participantes elaboraram suas respostas de acordo com seu grupo de pertencimento.
Operação Carbono Oculto Os participantes defenderam que o PCC era aliado do STF, da esquerda e de setores políticos e econômicos, reforçando a ideia de conluio e captura institucional. Também se destacou a crença em narrativas conspiratórias e a associação direta entre crime organizado e governo. O grupo interpretou a atuação do PCC em fintechs como sinal da sofisticação do crime, que aproveita a fragilidade das instituições. Houve também críticas ao governo federal, acusado de omissão e conivência, com a operação vista como exceção. As falas ressaltaram que o crime organizado teria se aliado a empresários e políticos de alto escalão, o que permitiria expandir e legitimar suas operações financeiras. Além disso, a justiça foi percebida como falha e conivente, incapaz de conter o avanço. Os participantes apontaram que o PCC passou a agir de forma empresarial, usando tecnologia e o sistema financeiro para lavar dinheiro e multiplicar ganhos. Predominou a percepção de impotência diante da permanência e do poder crescente do crime. O grupo associou diretamente crime, mercado e política, defendendo que elites econômicas e partidos estão envolvidos no esquema. Também reforçou a ideia de que a criminalidade é mais organizada do que o Estado, em meio a um cenário de desordem institucional. Não houve nenhum tipo de motivação religiosa nas respostas.
Pergunta 69
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino determinou que a Polícia Federal abra inquéritos para apurar 964 planos de trabalho de emendas parlamentares individuais que não foram cadastrados corretamente no sistema oficial do governo. O valor total desses repasses chega a R$ 694,6 milhões, segundo nota técnica do Tribunal de Contas da União (TCU). A decisão faz parte do acompanhamento que o STF tem feito para garantir o cumprimento de medidas de transparência sobre a execução orçamentária, após a extinção do orçamento secreto. Como vocês avaliam a atuação de Flávio Dino como ministro e suas decisões em relação à investigação dessas emendas?
Aprovam as decisões

Os grupos 2, 3 4 e 5 (bolsonaristas moderados, eleitores flutuantes, lulodescontentes e lulistas) compartilharam a ideia de que a fiscalização das emendas parlamentares era necessária e benéfica para garantir maior transparência e controle do uso do dinheiro público. Prevaleceu a ideia de que a investigação das emendas parlamentares era uma medida necessária e positiva, vinculada à defesa da transparência e ao uso correto dos recursos públicos. Em todos eles, emergiu a percepção de que o dinheiro público precisa de maior controle e acompanhamento, sendo vista como papel legítimo das instituições a tarefa de fiscalizar e punir desvios. Essa convergência reforçou a noção de que a fiscalização era um princípio inegociável de boa governança. Flávio Dino teve então as suas decisões aprovadas nesses grupos.

Outro ponto comum foi a cautela quanto aos efeitos práticos da medida. Ainda que a maioria tenha expressado apoio, houve desconfiança sobre a imparcialidade das investigações e sobre a real capacidade de reduzir a corrupção. O ceticismo variou em intensidade: enquanto nos grupos 2, 3 e 4 (bolsonaristas moderados, eleitores flutuantes e lulodescontentes) ele se manifestou de forma mais explícita — com receios de seletividade, de uso político ou de resultados limitados —, no grupo 5 (lulistas) essa desconfiança foi residual, mas ainda assim apareceu em menções ao risco de arquivamento ou resistência do Congresso. Entre os lulistas, houve ainda um entusiasmo quase unânime com a atuação de Dino, com elogios a sua coragem e a inteligência.

"A ação será louvável e digna de aplausos desde que não seja apenas uma forma de poder ter o congresso nas mãos usando o que for descoberto como moeda de troca. Outra coisa fundamental é que tanto políticos de direita quanto de esquerda e centrão sejam investigados e tratados de forma imparcial. No entanto devido ao histórico recente temo que só serão punidos os políticos de um espectro político, e que tudo que for descoberto será usado para que opositores seja impedidos de concorrer às próximas eleições...." (G2, 43 anos, administradora, GO)

"O ministro está fazendo certo,cumprindo sua obrigação de fiscalizar as verbas pública e os políticos.Isso faz com que diminua os desvios de verbas feita pelos políticos corruptos.Se essas emendas violam as regras e são irregulares tem que se apurar mesmo se a verba chegou no destino certo já que a maioria das verbas são desviadas." (G3, 41 anos, funcionária pública , GO)

"Acho uma iniciativa muito válida. É um bom começo para se ter o mínimo de controle sobre essas Emendas Parlamentares que movimentam bilhões sem qualquer controle e fiscalização efetivas. Dinheiro público precisa ser fiscalizado e ter um objetivo claro de uso, afinal é dinheiro de todos nós e também precisam serem abertas e detalhadas as prestações de contas desses recursos e ter-se um planejamento prévio muito claro e de fácil verificação e fiscalização a todos." (G4, 44 anos, funcionário público estadual, PR)

"O Flávio Dino e o Alexandre de Moraes são dois dos melhores Ministros que temos no STF. Uma pena que não existam mais pessoas com esse conhecimento técnico aliado a coragem de mexer em vespeiros sem se importar com as consequências das suas ações. Eu adoro o Flávio Dino desde da época que ele era Juiz, depois virou Governador e agora Ministro. Ele tem uma inteligência e uma sagacidade únicas que fazem um bem danado tanto para a Justiça, como também para o Brasil. Sobre as emendas parlamentares, sabemos bem para onde ia esse dinheiro e quem eram os beneficiados. Por isso tem tanta gente querendo tirar o Flávio Dino da presidência dessa comissão, pois ele está ""atrapalhando"" os ""negócios"" de muita gente graúda, que continue assim." (G5, 33 anos, tradutor, SP)

"Achei muito legal essa investigação, acho que já deu essa coisa largada dos políticos, muito bom saber para onde nosso dinheiro vai, achei a atitude de Flávio e Alexandre investigar isso a fundo que vai achar vão coisa, se a lei existe para os menos favorecidos tem que existe também para os deputados e grandes políticos." (G5, 38 anos, chefe de RH, BA)

Desconfiam das decisões

As opiniões do grupo 1 (bolsonaristas convictos) revelaram um cenário marcado por forte divisão em relação à atuação de Flávio Dino no STF. Parte dos participantes interpretou sua decisão como um passo necessário para garantir transparência e combater irregularidades no uso das emendas parlamentares, valorizando a importância da investigação e a necessidade de responsabilização. Ao mesmo tempo, emergiu uma corrente expressiva de desconfiança e rejeição, na qual a figura de Dino foi vista sob uma lente ideológica negativa e fortemente marcada pela polarização. Nessa perspectiva, sua atuação foi interpretada não como um esforço genuíno de transparência, mas como parte de um jogo político com intenções ocultas, associado a interesses do governo e a uma agenda considerada partidária. Esse grupo não dissociou a decisão de sua trajetória política e de sua identidade ideológica, utilizando esses elementos como base para questionar sua credibilidade.

"Boa noite! Achei correta a decisão de Dino, pela primeira vez vou ter que concordar com ele." (G1, 38 anos, assistente administrativo , AM)

"Achei correta a decisão do ministro, é preciso investigar todo o uso dessas emendas só que depois é preciso punir quem errou." (G1, 50 anos, engenheiro, SP)

"Flávio Dino, conhecido em seu Estado do Maranhão como ""Dinoca"", junto a Márcio Jerry. Flávio Dino, que tem um sobrinho traficante, um dos motivos para ele ter acesso livre junto ao PCC, envolvimento com o narcotráfico. Flávio Dino, que foi governador no Maranhão de 2015 a 2022 e desviou muito dinheiro destinado a pandemia. Flávio Dino é um comunista assumido, foi ""puxado"" por Lula para estar onde está hj. Ele está fazendo bem o papel dele como comunista. Não é confiável nada o que vem dele. Não espero nada de positivo!"" (G1, 46 anos, cuidadora infantil, PR)

"Não acompanhei essa ação do ministro comunista Flávio Dino, parece ser legal, mas espero que se for achada irregularidades puna tanto a esquerda quanto a direita, porque não se pode esperar nada de bom de um comunista declarado." (G1, 55 anos, gerente de serviços elétricos , RJ)

"Todo mundo sabe que estas medidas do Flávio Dino, são para precionar os parlamentares contra as ações de votação a anistia e CPI do INSS. Quer enganar a quem , tentando passar imagem deste corrupto como um juiz decente."" (G1, 54 anos, músico, RS)

Pergunta 70
A Câmara dos Deputados deve votar hoje (27/8) uma PEC que pretende blindar os parlamentares de ações da Justiça. A PEC da Blindagem, como é chamada, foi ressuscitada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), na semana passada. A última versão do texto estabelecia que os parlamentares: não podem ser afastados do mandato por decisão judicial; podem ser presos em flagrante por crime inafiançável, mas devem ficar sob custódia da Câmara ou do Senado até que o plenário decida se mantém ou não a prisão; não podem ser responsabilizados civil nem penalmente por "opiniões, palavras e votos, cabendo exclusivamente a responsabilização ético-disciplinar"; medida cautelar que afete o mandato (como prisão domiciliar) só terá efeito após ser confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF). Os parlamentares articulam incluir no projeto uma autorização para que deputados e senadores só possam ser investigados e processados por crimes comuns após autorização do Legislativo. O que vocês acham dessa proposta?
Apoio parcial à PEC

As opiniões dos grupos 1 e 2 (bolsonaristas convictos e moderados) revelaram uma predominância de apoio à proposta, sustentada sobretudo pela percepção de que o sistema político vivia sob um ambiente de perseguição e desequilíbrio entre os poderes. Muitos participantes viram a PEC como um mecanismo necessário para restituir a autonomia parlamentar e limitar o alcance do Judiciário, que foi interpretado como excessivo. A defesa da medida se estruturou em um discurso que associava a iniciativa à proteção de determinados grupos políticos, especialmente os alinhados à direita, entendidos como alvos de hostilidade.

Ao mesmo tempo, houve também uma consciência de que a proposta poderia ampliar espaços de impunidade e abrir margens para a proteção de práticas ilícitas. Alguns discursos apontaram para a contradição de apoiar a PEC mesmo reconhecendo seus potenciais efeitos negativos, numa espécie de justificativa baseada no contexto político atual. Essa ambivalência demonstrou que, embora o apoio fosse majoritário, não se tratava de uma adesão incondicional, mas de um posicionamento que mesclava convicção e pragmatismo diante do cenário de polarização e desconfiança em relação às instituições.

"Bom dia sou favorável, pois o STF que prender alguns políticos, ê os da direita então, sem falar na perseguição do partido do MULA, hoje vejo muito descaso do STF em relação a politica, que mandar no País todo, e com aquele Ministro pior ainda, vejo que nossa democracia está sendo violada." (G1, 36 anos, assistente jurídico, BA)

"Boa noite a todos. Sou a favor da PEC, porém, apesar de ela ser algo positivo para os políticos de direita que estão sendo perseguidos, todos sabem que Hugo Mota está do lado de Alexandre de Moraes e dos petistas, portanto, na verdade, eles estão apenas prevendo uma bomba que, futuramente, vai estourar contra os próprios políticos da esquerda e tentando blindar eles." (G1, 45 anos, padeiro , PB)

"Eu pensei que eles já tinham todos esses direitos, mas como o STF tem interferido em todos os poderes, acho válido, principalmente para os parlamentares de direita, que estão sendo perseguidos pela militância judiciária." (G1, 55 anos, gerente de serviços elétricos , RJ)

"Em outros tempos eu as acharia absurdas, no entanto como apenas um lado político vem sendo penalizado de forma a parecer que á uma intenção de calar um espectro político, ja as vejo como algo necessário para que o congresso possa votar livremente sem medo de represália do judiciário." (G2, 43 anos, administradora, GO)

"No meu ver é uma PEC da precaução contra os desmandos do Judiciário." (G2, 43 anos, professora , SP)

"Eu acho que é um absurdo, pois já tem muitos privilégios, e quem pensa numa proposta dessa , já está com a intenção clara de fazer uso dela. Ou tem aliados que já tem um passado podre na política" (G2, 26 anos, autônomo, DF)

Rejeição integral à PEC

As opiniões dos grupos 3, 4 e 5 (eleitores flutuantes, lulodescontentes e lulistas) revelaram uma rejeição quase unânime à proposta, sustentada sobretudo pela percepção de que ela representava um instrumento de autoproteção das elites políticas e um aprofundamento da impunidade. A PEC foi vista como um mecanismo para ampliar privilégios já excessivos e colocar os parlamentares acima da lei, corroendo ainda mais a legitimidade das instituições e agravando o distanciamento entre representantes e representados. A defesa do interesse próprio, em detrimento do bem público, foi apontada como marca central dessa iniciativa, interpretada como um ataque direto aos princípios democráticos.

Ao mesmo tempo, os participantes expressaram indignação e pessimismo quanto ao futuro político do país, associando a proposta ao avanço da corrupção e à degradação da democracia. A leitura predominante foi de que se tratava de mais um passo na consolidação de um sistema desigual, em que os políticos se blindam das consequências de seus atos enquanto a população comum permanece submetida às regras. Essa visão reforçou um sentimento generalizado de descrença e revolta, no qual a PEC simbolizava não apenas uma medida pontual, mas um reflexo da falência moral e institucional da classe política brasileira.

"Todo cidadão deve ser investigado, se houver indícios de crimes sejam eles piores ou 'menos' piores, seja eles deputados, senadores, governadores, presidentes e assim vai. O que eles querem é so legalizar o crime, como diz o ditado Pintar e bordar. E se parar para pensar eles já tem muitas passadas de panos.... ja tem muita falcatrua por debaixo do tapete." (G3, 36 anos, autônoma, SP)

"E uma proposta absurda, querem blindagem para poder roubar e cometer crimes livremente rindo da nossa cara. Essa proposta reflete a cara da nossa política, um grupo que nós elegemos democraticamente, e quando chega lá só pensa em beneficiar a si próprio ficando livre para cometer o ato ilícito que tiver vontade." (G3, 45 anos, professora , MT)

"Uma grande palhaçada e um desaforo para a sociedade,eles já são cheios de privilégios e ainda querem mais!? Infelizmente o Brasil é mais o país das injustiças!" (G4, 49 anos, artesã , CE)

"Essa PEC é o auge da impunidade. Tenho a opinião que essa PEC, se aprovada, deveria ser questionada no STF pois é um abuso de poder do Legislativo. É completamente descabido uma PEC para proteger parlamentares de punições e praticamente impossibilitar qualquer punição aos parlamentares. É um ato que praticamente acaba com a possibilidade de qualquer forma de punições aos parlamentares que não seja aprovada pelo próprio Congresso. É o Congresso querendo se sobrepor ao Judiciário." (G4, 44 anos, funcionário público estadual, PR)

"Eu precisei até mudar a carinha da reação ao ler sobre tamanha barbaridade! O que eles querem, como sempre, é um sistema que promova a impunidade e que os parceiros se protejam. Eu não voto em você, você não vota em mim e continuamos fazendo o que bem entendermos nessa casa Legislativa. Isso é um absurdo sem tamanho, eu não estou acompanhando muito as notícias essa semana, então me pegou muito desprevenido essa proposta, que espero que seja barrada antes mesmo de ir à votação ou em último caso que o Lula vete. O que mais me entristece é que eles não tem nenhum pudor de legislar em causa própria. Na teoria eles deveriam ser os representantes do povo, mas na prática sabemos que só estão lá para ganhar dinheiro, engordar suas contas e manter a capitania hereditária em muitas regiões do Brasil, isso é uma lastima." (G5, 33 anos, tradutor, SP)

Pergunta 71
A megaoperação "Carbono Oculto", realizada em 28 de agosto de 2025, revelou um esquema sofisticado de lavagem de dinheiro conduzido pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Usando fintechs (bancos digitais) sediadas na Faria Lima — o principal polo financeiro paulistano — como “bancos paralelos”, a facção moveu R$ 46 bilhões em uma dessas instituições e controlou cerca de 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões. Com esses recursos, adquiriu diversos bens — de caminhões e usinas a imóveis de luxo e fazendas rurais O que significa para vocês o PCC operar bilhões em fintechs da Faria Lima, em vez do “crime comum”?
Modernização do crime

Os grupos 2, 3, 4 e 5 (bolsonaristas moderados, eleitores flutuantes, lulodescontentes e lulistas) compartilharam uma leitura bastante convergente sobre a transformação do crime organizado em um ator cada vez mais sofisticado e articulado. Para eles, o PCC deixou de atuar apenas em práticas tradicionais e passou a se infiltrar no sistema financeiro, operando como uma empresa que aproveita as fragilidades do Estado e as brechas regulatórias. A presença em fintechs e fundos de investimento foi interpretada como símbolo dessa modernização, capaz de dar aparência de legalidade a operações ilícitas. Essa perspectiva reforçou a ideia de que a criminalidade não se restringia mais ao nível das ruas, mas havia alcançado estruturas de poder social e econômico.

Ao mesmo tempo, houve uma forte percepção de que esse avanço só era possível graças ao envolvimento ou à conivência de setores privilegiados — empresários, políticos e até agentes estatais. A justiça foi vista como falha, incapaz de responder à altura, e o Estado como enfraquecido diante da força das facções. A combinação de sofisticação financeira, alianças com elites e omissão institucional formou a base da interpretação comum aos três grupos, que concluíram que a criminalidade organizada estava não apenas crescendo, mas se consolidando como parte integrante do próprio sistema político e econômico do país.

O diferencial dos lulistas esteve na forma de narrar essas conexões: enquanto os demais grupos destacaram a sofisticação do PCC e a falha do Estado em combatê-lo, o G5 interpretou o problema como fusão estrutural entre poder econômico, política e facções. Nesse grupo, a crítica deslocou-se do “crime que se modernizou” para o “mercado e a política como parte do crime”, acentuando o caráter sistêmico e inevitável da corrupção.

"Boa tarde, não vi nada sobre isso mas significa que eles estão lavando o dinheiro com empresas, relativamente novas do mercado que de maneira geral já mexe com valores altos e não teriam muitas indagações sobre a mesmas, ou seja eles movimentam e emprestam dinheiro para bancos digitais em troca de ocultar suas transações" (G2, 24 anos, suporte TI, DF)

"significa que o crime organizado que foi proibido de ser combatido desde a pandemia cresceu, se infiltrou em todos órgãos públicos e privados. E o governo federal não faz o mínimo esforço pra combatê-lo, esta ação só aconteceu porque foi o governo e a policia de São Paulo que investigou." (G2, 43 anos, administradora, GO)

"Bom dia, o crime comum já está obsoleto há muito tempo no Brasil. As operações alcançaram um patamar muito grande e começaram a envolver gente muito grande. Assim, a operação foi ficando mais sofisticada e se entranhando nos maiores patamares possíveis, afim de conseguir disfarçar melhor o crescimento." (G3, 25 anos, contador, RJ)

"Basicamente estão se juntando ao alto escalão! Antigamente o que era clandestino agora tem CNPJ para dar uma aparência de mais "real". Fora que para mim a maioria dos políticos estão envolvidos com o PCC por isso nunca cai e dessa forma com essa parceria vai ficando cada vez mais fácil lavar o dinheiro." (G3, 36 anos, autônoma, SP)

"Agora o crime organizado deixou de atuar apenas nas ruas e está adentrando o sistema financeiro para multiplicar o dinheiro ilícito como se fosse uma empresa. A Criminalidade deixou de ser rudimentar e está passando por uma evolução tecnológica, se atualizando." (G4, 36 anos, instrutor de informática , SP)

"Isso só demonstra o poder que o crime organizado exerce na nossa sociedade. É cada vez mais sofisticada a rede usada pelo crime organizado para legalizar seus dinheiro ilegal. O crime organizado está cada vez mais poderoso e tem um poder econômico cada vez maior. Esse tipo de operação policial que usa de inteligência e integração de dados de vários órgãos é fundamental para se combater o crime organizado que muitas vezes usa empresas legalizadas para legalização do dinheiro arrecadado." (G4, 44 anos, funcionário público estadual, PR)

"Só demonstra mais uma vez como o poder financeiro, político e social estão todos misturados e não há nenhum tipo de controle sobre o famoso mercado. Em um país sério, o mercado jamais deveria estipular e controlar as políticas públicas, mas aqui no Brasil ele é visto como um Deus, mesmo estando envolvido em diversos crimes, como esse agora! Que esse exemplo sirva para mostrar como o mercado é podre e não devemos nos basear nele para tomar as decisões do que é melhor para o Brasil."* (G5, 33 anos, tradutor, SP)

"Só ficou claro de uma vez por todas, que a política está envolvida com o crime organizado. Aliás o crime organizado está em todos os lugares. Eles investiram em atuar em uma área nobre, pra movimentar com mais tranquilidade." (G5, 37 anos, restauradora, SP)

Colapso das instituições

Os participantes do grupo 1 (bolsonaristas convictos) revelaram uma forte percepção de deslegitimação das instituições estatais e da política formal, interpretando a operação não como um enfrentamento ao crime, mas como indício de conluio entre facções criminosas, governo e Poder Judiciário. Predominou uma leitura conspiratória, em que o avanço do PCC para o setor financeiro era associado à cumplicidade de autoridades de alto escalão, reforçando a ideia de que o Estado estava capturado por interesses ilícitos. Além disso, os comentários revelaram descrença na efetividade da justiça e na autonomia das instituições de segurança, vistas como parte de um arranjo que protegeria criminosos poderosos enquanto puniria apenas as camadas mais baixas da criminalidade.

Também emergiu um forte enquadramento político-ideológico, em que a presença do PCC em circuitos financeiros sofisticados foi interpretada como um reflexo direto da atuação da esquerda no poder. A narrativa dominante descreveu um Estado fragilizado e permissivo, governado por figuras associadas ao crime organizado, e reforçava a ideia de que o Brasil caminhava para um cenário de ditadura judicial ou de captura institucional. Essa perspectiva se alimentava de referências externas, como a relação com os Estados Unidos e a figura de Trump, além de mencionar articulações internacionais, como o Foro de São Paulo, inserindo a operação em uma lógica de guerra política e cultural. Assim, as falas se estruturaram menos como análise do fenômeno econômico-criminal e mais como acusação política ampla, em que o crime organizado servia como metáfora do colapso das instituições democráticas.

"Pra mim significa que somos um estado narcotraficante, e que o traficante mor está no STF comandando o Brasil. Tão claro e transparente só não vê quem não quer. Por isso o nosso país se tornou uma ditadura judiciária, para que ninguém questione o que está por vir e o que está acontecendo. O PCC colocou o chefão no STF, porque eles vão agir na ralé do crime comum, vão logo para o polo financeiro paulistano que é muito mais chique, tem muita gente grande que arrota virtudes envolvida nisso tudo." (G1, 55 anos, gerente de serviços elétricos , RJ)

"Todos sabemos que o PCC é uma organização criminosa que movimenta bilhões e tem apoio de vários setores. Um grupo terrorista ao qual Lula não quer tratar como tal." (G1, 38 anos, assistente administrativo , AM)

"Significa dizer que existem pessoas grandes envolvidas nisso. Acredito que o cabeça de ovo esteja envolvido ou até faça parte do PCC, e por isso não quiseram classificá-los como terroristas, e também é ouvi de diversas pessoas também que o PT é uma das maiores organizações criminosas existentes no Brasil." (G1, 45 anos, padeiro , PB)

"O envolvimento político da esquerda envolvidos com o PCC e CV é nítido, não deixa dúvidas." (G1, 46 anos, cuidadora infantil, PR)

Monitorando a Desinformação
Pergunta 71

Somente a última pergunta da semana gerou materiais de mídia como resposta. Novamente somente os bolsonaristas convictos enviaram vídeos. Foram compartilhados 6 materiais.

Um deles era um vídeo de uma entrevista de Haddad sobre a operação, com o seguinte questionamento "É muita coincidência logo agora que o Trump quer classificar o PCC como grupo terrorista, a PF vem com essa operação, muito esquisito isso".

Dois vídeos de Gustavo Gayer foram compartilhados. Num, ele adota um formato de denúncia militante. O vídeo traz um discurso de forte teor político e conspiratório, em que o narrador afirma que informações sobre ligações entre o PT e o PCC foram “censuradas” por determinação de Alexandre de Moraes durante as eleições de 2022. A fala mistura acusações antigas, trechos de delações, interceptações telefônicas e episódios já amplamente desmentidos para sustentar a ideia de que o PCC seria “braço do PT” e de que haveria uma relação direta e estrutural entre o partido e o crime organizado.

No outro, Gayer apresenta uma narrativa em que acusa o governo federal de se apropriar politicamente da megaoperação contra o PCC para retomar a pauta de monitoramento do Pix e transferir responsabilidades. Ele enfatiza que a investigação teria começado em São Paulo, sob comando do governador Tarcísio de Freitas, com o Ministério Público e a polícia estaduais, e que a Polícia Federal entrou apenas no final, “de surpresa”, sem protagonismo. A partir disso, constrói a ideia de que o governo Lula, sem recursos e enfraquecido, tenta usar a operação como cortina de fumaça para justificar medidas impopulares e ressuscitar projetos de fiscalização financeira, agora apresentando opositores como Nicolás Ferreira como responsáveis por fake news que teriam favorecido o crime organizado. O tom é acusatório, mobilizador e marcado por ironia, sugerindo que o governo age de forma oportunista e perversa ao transformar uma investigação estadual em capital político e ao tentar criminalizar a oposição.

O quarto vídeo foi de Nikolas Ferreira. O vídeo apresenta um discurso em tom defensivo e combativo, no qual o deputado se coloca como alvo de perseguição política ao ser acusado de ligação entre seu vídeo sobre o Pix e a operação contra o PCC. Para desacreditar a narrativa oficial, ele ridiculariza a ideia de que sua fala teria influenciado crimes passados, ataca o governo e a Receita Federal por usarem o tema das fake news como cortina de fumaça, e inverte a acusação, resgatando episódios que apontariam vínculos históricos do PT com o crime organizado. O conteúdo se estrutura em uma retórica de vitimização, deslegitimação das instituições e alerta identitário, mobilizando a audiência com a ideia de que o verdadeiro objetivo do governo seria calar a oposição e controlar a sociedade.

No quinto vídeo, de Paulo Baltokoski, o narrador sustenta, em tom acusatório, que o governo Lula estaria distorcendo a megaoperação contra o PCC para transformá-la em justificativa política e culpar a oposição. O discurso parte da fala de Lula em entrevista, na qual o presidente associa o vídeo de Nicolas Ferreira a uma suposta defesa do crime organizado. A partir daí, o vídeo rebate essa narrativa argumentando que o vídeo de Nicolas não continha informações falsas, apenas reproduzia a própria instrução normativa da Receita Federal sobre monitoramento de transações e reforça a tese de que a operação foi iniciada em São Paulo, sob Tarcísio de Freitas, com protagonismo do Ministério Público e das polícias estaduais, e não pela Polícia Federal. O tom é combativo e mobilizador, apresentando Lula e seus aliados como oportunistas que usam crises e operações para encobrir fragilidades econômicas, retomar o monitoramento do Pix e criminalizar opositores.

No último vídeo, um suposto analista participa da "Conversa Timeline", com declarações que buscam reforçar a ideia de que a investigação teve origem em São Paulo, por meio do Ministério Público e da Polícia Civil, sob a gestão estadual, e não pela Polícia Federal durante o governo Lula. O tom é didático e assertivo, procurando “corrigir” informações consideradas distorcidas pela imprensa, como a de que a operação teria começado a partir da apreensão de um caminhão-pipa adulterado.

Percebe-se que os conteúdos trazem alegações falsas ou distorcidas, como dizer que a PF não participou da operação Carbono Oculto ou que o governo pretendia “taxar o Pix”, quando na verdade a norma tratava apenas de reporte de transações. Também são infundadas as acusações de ligação estrutural entre PT e PCC, já classificadas pela Justiça como fake news, e a narrativa de que a recusa em tipificar facções como terroristas visaria protegê-las. Esses discursos exageram, omitem contexto e mobilizam medo e indignação para sustentar uma visão de perseguição política e fragilidade institucional.

Trechos dos vídeos de Gustavo Gayer:

“Esse é um vídeo que eu tenho uma hora que eu tô pensando se eu gravo ou não gravo, porque é um vídeo que pode colocar minha vida em risco. (...) Boa parte dele foi proibida de ser transmitida falada durante as eleições de dois mil e vinte e dois por determinação do Alexandre de Moraes.” / “O PCC e o PT são intrinsecamente ligados. Pode considerar que o PCC é um braço do ou PT um braço do PCC e eu vou mostrar isso pra vocês agora.” / “Agora o Lula quer novamente voltar com a bandeira da taxação e vai usar a operação policial de ontem pra fazer isso.” / “Esse áudio mostra um dos líderes do PCC numa conversa de telefone que foi interceptada. (...) O PT tinha um diálogo com nós fabuloso irmão.” / “Compartilhe esse vídeo e vamos divulgar a verdade de quem são os criminosos desse país.”

“Quem começou essa ação foi São Paulo, foi a polícia de São Paulo, o Ministério Público de São Paulo, é do Tarcísio malvadão, sabe? (...) A Polícia Federal entrou nos momentos finais quando já não tinha segurar mais.” / “Veja uma operação desse tamanho (...) e ele não sabe quem são as pessoas que foram presas. (...) Ele não sabe o nome das pessoas que foram presas porque ele não participou do inquérito da investigação.” / “O governo imediatamente viu uma oportunidade de resgatar o monitoramento, fiscalização de transação bancária pra poder pegar o nosso dinheiro.” / “Convenhamos, o PCC é um amigo próximo do PT há décadas e a gente sabe disso. O PCC tem diálogo cabuloso com o PT.” / “Eles estão usando o que acabou de acontecer contra o PCC pra tentar resgatar o monitoramento da fiscalização do Pix tentando ainda duma maneira absurdamente culpar o Nicolas! Olha só! Agora o Nícolas ajudou o PCC porque ele soltou fake news sobre o Pix.”

Trechos do vídeo de Nikolas Ferreira:

“Era só o que me faltava. Já que eu não estou em nenhuma lista de corrupção, não faço rachadinha e nem roubo o velhinho do INSS. Eles precisam inventar.” / “O meu vídeo é de janeiro de dois mil e vinte e cinco. Como que um vídeo de dois mil e vinte e cinco pode ter ajudado as ações que foram feitas entre dois mil e vinte e dois e dois mil e vinte e quatro pelas facções criminosas. Eu sou o quê? O viajante do tempo agora?” / “E esse cara aqui é o secretário da Receita Federal, Robson Barreirinhas. Que é um capacho do Haddad e que basicamente deveria ocupar um cargo técnico, mas foi uma indicação ali do Haddad e ele se comporta obviamente como um militante de DCE da federal.” / “Não fui eu que visitei o Complexo da Maré que basicamente policiais dizem que você não consegue visitar lá sem ter o aval do tráfico. Não fui eu que fui citado pelo Marcos Valério. Foi o PT que mostra ali uma suposta ligação entre os dois.” / “Porque eles sabem que com a internet essas mentiras, narrativas não cola. (...) Se eles conseguirem me calar que sou deputado, que tenho imunidade parlamentar, o que que não vão fazer com você aí que é pastor, padre, professor, um cidadão com opinião qualquer?”

Trechos do vídeo de Paulo Baltokoski:

“Esse vídeo do Nicolas não continha nenhuma informação falsa. Ele falou explicitamente que o Pix não seria taxado e apenas mostrou aquilo que a instrução normativa publicada pela Receita Federal de fato dizia.” / “Quem começou essa ação foi São Paulo, foi a polícia de São Paulo, o Ministério Público de São Paulo, é do Tarcísio malvadão, sabe? (...) A Polícia Federal entrou nos momentos finais quando já não tinha segurar mais.” / “Eles estão usando o que acabou de acontecer contra o PCC pra tentar resgatar o monitoramento da fiscalização do Pix tentando ainda duma maneira absurdamente culpar o Nicolas!”

Trechos do vídeo da Timeline:

“A operação carbono oculto teve início com ações de inteligência do Ministério Público de São Paulo que solicitou levantamentos à polícia (...) não me parece que possa haver dúvidas quanto a quem iniciou essa investigação.” / “Aquela historinha de que a operação teria se iniciado a partir da apreensão de um caminhão tanque disfarçado de caminhão-pipa, carregado de metanol em Guarulhos em maio de dois mil e vinte e três (...) desculpa mas não cola.” / “Não é um problema que se solucionará com uma melhora da economia com um candidato permitido por meio de eleições. Quem ainda acredita nisso está ou extremamente ausente das nossas conversas ou (...) se agarra em uma ilusão.”

Considerações finais

As análises mostraram que, ao longo dos três temas, os grupos se distribuíram de maneira distinta, mas surgiram algumas linhas de convergência significativas. Em todas as perguntas da semana, embora com níveis variados, predominou entre os participantes uma desconfiança estrutural nas instituições, seja no campo da política, da justiça ou da segurança pública.

Na primeira questão, sobre a decisão de Flávio Dino de investigar as emendas parlamentares, prevaleceu entre os grupos a concordância quanto à importância da fiscalização e da transparência. No entanto, enquanto os bolsonaristas moderados, eleitores flutuantes e lulodescontentes manifestaram apoio mais cauteloso, ressaltando o risco de seletividade e de “mostrar serviço” sem resultados concretos, o grupo de lulistas adotou um tom mais positivo, celebrando a postura de Dino e associando a medida à necessidade de responsabilização efetiva e maior controle de verbas. Houve ainda uma divisão significativa entre os bolsonaristas convictos: parte reconheceu a legitimidade do controle, mas a maioria no grupo interpretou a ação como politizada e direcionada contra a direita. Assim, o consenso sobre a necessidade de apuração foi acompanhado novamente de posicionamentos que colocaram em xeque a credibilidade da atuação de Dino e do STF.

No caso da PEC da Blindagem, a divisão foi marcante. Enquanto os grupos bolsonaristas — convictos e moderados — sustentaram apoio pragmático à medida como resposta ao que consideravam perseguição judicial seletiva, os demais grupos reprovaram a proposta de forma contundente, interpretando-a como símbolo de impunidade e de ampliação de privilégios. A divergência fundamental residiu na forma de interpretar a iniciativa: para os bolsonaristas, tratava-se de restaurar equilíbrio entre os poderes. Para os demais, o ato poderia corroer os princípios da democracia e institucionalizar a desigualdade jurídica. O ponto comum esteve na percepção crítica sobre o sistema político: mesmo entre os que defenderam a PEC, havia a consciência de que ela poderia proteger corruptos.

A última questão trouxe maior convergência entre os grupos. As análises mostraram que, apesar das diferenças de ênfase, havia um consenso de que o crime organizado no Brasil havia ultrapassado a esfera do “crime comum” e atingido níveis de sofisticação que o colocavam em pé de igualdade com instituições políticas e econômicas. A percepção geral foi a de que o Estado se encontrava fragilizado e incapaz de conter esse avanço, permitindo que facções como o PCC se infiltrassem em setores estratégicos da economia. O sentimento de impotência e descrédito nas instituições reforça a ideia de que a criminalidade organizada não apenas se fortalecia, mas se consolidava como parte estrutural da realidade brasileira. O grupo de bolsonaristas convictos apresentou uma particularidade relevante: nele, o PCC foi associado diretamente ao PT e às instituições do Judiciário, em especial o STF, compondo uma narrativa conspiratória em que crime organizado e política de esquerda se fundiriam em um mesmo projeto de poder. Assim, embora compartilhasse a percepção de sofisticação e de falência do Estado, esse grupo se diferenciou ao transformar o debate sobre criminalidade em um campo explícito de disputa ideológica, reforçando a ideia de perseguição política e de captura institucional por adversários políticos e revelando a alta exposição desse grupo à desinformação.

Distribuição da Participação

G1=140,68,126,334,137,154,78,42,159, 189 G2=186,79,62,136,37,100,78,60,198, 98 G3=114,160,144,73,47,67,145,174,83,99 G4=118,89,64,88,111,106,231,92,100,102 G5=106,96,54,155,246,131,87,35,361,94

As técnicas tradicionalmente utilizadas para investigar a opinião pública são os surveys e os grupos focais. Ambas são muito úteis, mas têm com limitações da ordem prática e orçamentária, particularmente se deseja realizar um monitoramento contínuo.

O Monitor do Debate Público (MDP) é baseado em uma metodologia inovadora para monitorar de modo dinâmico a opinião pública e suas clivagens no que toca temas, preferências, valores, recepção de notícias etc.

O MDP é realizado por meio de grupos focais de operação contínua no WhatsApp, com participantes selecionados e um moderador profissional.

Assim como na metodologia tradicional de grupos focais, os grupos contínuos no WhatsApp do MDP permitem que o moderador estimule o aprofundamento de temas sensíveis e difíceis de serem explorados por meio de pesquisas quantitativas ou mesmo pela aplicação de questionários estruturados.

O caráter assíncrono dos grupos do MDP, possibilitado pela dinâmica da comunicação no WhatsApp, permite respostas mais refletidas por parte dos participantes, o que é adequado para eleitoral, dado que o voto é também uma decisão que demanda reflexão.

Por sua natureza temporal contínua, grupos focais do MDP são propícios para criar situações deliberativas, nas quais as pessoas se sentem compelidas a elaborar suas razões a partir das razões dadas por outros participantes do grupo.

O telefone celular é hoje o meio mais democrático e acessível de comunicação. Assim, a participação nos grupos do MDP não requer o uso de computador ou mesmo que os participantes interrompam suas atividades para interagirem entre si.

Equipe MDP

Carolina de Paula – Diretora geral

Doutora em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Coordenou o IESP nas Eleições, plataforma multimídia de acompanhamento das eleições 2018. Foi consultora da UNESCO, coordenadora da área qualitativa em instituto de pesquisa de opinião e big data, atuando em diversas campanhas eleitorais e pesquisas de mercado. Realiza consultoria para desenho de pesquisa qualitativa, moderações e análises de grupos focais e entrevistas em profundidade. Escreve no blog Legis-Ativo do Estadão.

João Feres Jr. – Diretor científico

Mestre em Filosofia Política pela UNICAMP e mestre e doutor em Ciência Política pela City University of New York, Graduate Center. Foi professor do antigo IUPERJ de 2003 a 2010. É, desde 2010, professor de Ciência Política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ). Coordenador do LEMEP, do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (GEMAA) e do Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB).

Francieli Manginelli – Coordenadora de recrutamento

Cientista Social e mestre em Sociologia pela UFPR, com experiência em relações de consumo e estratégias de comunicação. Possui formação em UX Research e cursos de gestão e monitoramento de redes sociais e estratégias eleitorais, mídias digitais e gerenciamento de redes. Possui experiência em pesquisas de mercado e campanhas políticas. Realiza moderações e análises de grupos focais e entrevistas em profundidade.

André Felix – Coordenador de TI

Mestre em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Tem experiência em planejamento e desenvolvimento de sistemas computacionais de pequeno e médio porte, manutenção de servidores web e possui especialização em modelagem e implementação de bancos de dados relacionais.

INCT ReDem

O Instituto Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Representação e Legitimidade Democrática (INCT ReDem) é um centro de pesquisa sediado no Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), financiado pelo CNPq e pela Fundação Araucária.

Reunindo mais de 50 pesquisadoras(es) de mais de 25 universidades no Brasil e no exterior, o ReDem investiga, a partir de três eixos de pesquisa (Comportamento Político, Instituições Políticas e Elites Políticas) as causas e consequências da crise das democracias representativas, com ênfase no Brasil.

Sua atuação combina metodologias quantitativas e qualitativas, como surveys, experimentos, grupos focais, análise de perfis biográficos e modelagem estatística, produzindo indicadores e ferramentas públicas sobre representação política, qualidade da democracia e comportamento legislativo.

O objetivo central do ReDem é gerar conhecimento científico de alto impacto e produzir recursos técnicos que auxiliem cidadãos, jornalistas, formuladores de políticas e a comunidade acadêmica a compreender, monitorar e aperfeiçoar a representação política democrática no Brasil.


Warning: Undefined array key "IdPaginaRelatorio" in /var/www/pomt/releases/med-prod-20250820115121/htdocs/relatorio/relatorio.php on line 254
Leia outros Relatórios do MDP

Prisão de Hytalo Santos; Saída do país da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto; Áudios de Silas Malafaia

Mudanças na CNH; Vídeo de Felca; Sanções dos EUA ao Mais Médicos.

Manifestações pró-Bolsonaro; Prisão de Bolsonaro; Motim de Deputados Bolsonaristas

Denúncia contra Nikolas Ferreira; Medida de ajuda a refugiados; Imposição de Lei Magnitsky

Revogação dos vistos americanos de ministros do STF; Atitudes de Eduardo Bolsonaro; Alckmin e negociações sobre taxação

Entrevista de Lula; Veto de Lula ao aumento de deputados; Medidas cautelares contra Bolsonaro

Percepção de pobres x ricos; Implanon no SUS; Taxação de Trump

Vídeo sobre Imposto; Substituto de Bolsonaro; Comunicação da Direita e Esquerda

Infraestrutura e falhas governamentais; Resgate de Juliana Marins; Anulação de Decreto (IOF)

Ataques de Israel; Atuação do governo na economia; Papel social do governo

CLT; Interrogatório de Bolsonaro; Audiências de Ministros no Congresso

Política migratória dos EUA; Câmeras corporais nas fardas; Condenação de humorista.

Imagem de Janja; Ataques a Marina Silva; Programa Mais Especialistas

Responsabilidade pela Segurança Pública; Programa SuperAção SP; Anistia a Dilma Rousseff

Número de Deputados Federais; Mídia e INSS; CPI das BETS

Fraude no INSS; Papa Francisco; Viagem de Lula à Rússia

Prisão de Collor; Terapias hormonais em adolescentes; Camisa vermelha da seleção

Bolsa Família como Inclusão Social; Minha Casa, Minha Vida para Moradores de Rua

Ampliação da Isenção para Igrejas; Código Brasileiro de Inclusão

Governadores em Ato pró-Anistia; Percepções sobre os EUA; Percepção sobre Donald Trump

Identidades políticas adversárias; Autoidentificação de grupo; Percepções sobre crimes de abuso sexual

Aumento da Faixa de Isenção do IR.; Condenação de Carla Zambelli.; Bolsonaro Réu por Ataques à Democracia.

Passeata de Bolsonaro por anistia; Licenciamento de Eduardo Bolsonaro; Avaliação do Governo Federal.

Prisão de Braga Netto;Aprovação do do pacote de cortes de gastos;Concessão de benefícios extras

Tarcísio de Freitas e o uso de câmeras;Regulamentação de IA;Declarações de Moro e a Cassação de Caiado.

Isenção do IR; PEC dos Gastos Públicos; Divergências entre Mercado e Governo.

Tentativa de Golpe: informações gerais; Indiciamento de Jair Bolsonaro; Pedido de Anistia

Especial G20: Falas de Janja; Percepeções gerais; Avaliação de pautas

Símbolos religiosos em órgãos públicos; PEC para fim da escala de trabalho 6x1; Atentado em Brasília.

Retirada de livros com conteúdo homofóbico.; Vitória de Trump.; Programa Pé de Meia.

Fragmentação da Direita; Anulação de condenações da Lava-Jato; Reunião de Lula com governadores

Participação do Brasil no BRICS; Mudanças de candidato no 2T; Caso Gustavo Gayer

Privatização de estatais; Fake News nas eleições; Eleição de policiais e militares

CPI das apostas online; Aumento da pena para crimes contra a mulher

Decisão do voto: Direita x Esquerda; Voto no PT; Campanha 2024 e expectativas; Avaliação dos Resultados

Descriminalização das Drogas; Ens. Religioso; Escola cívico-militar; Aborto; Prisão de mulheres que abortam

Violência entre Datena e Marçal; Regras do debate eleitoral; Definição do voto

Manifestação convocada por Bolsonaro; Atuação de Marina Silva; Prisão de Deolane

Suspensão do X (antigo Twitter); Queimadas florestais; Acusações sofridas por Silvio Almeida

Semana Temática: Bolsa Família; Auxílio Brasil; Privatização das Estatais

Pablo Marçal; Folha contra Moraes; Suspensão das Emendas

Temático: Casamento Homoafetivo; Adoção por casal Gay; Cotas Raciais

ESPECIAL ELEIÇÕES MUNICIPAIS: Interesse pelo Pleito; Gestor Ideal; Apoios de Lula e Bolsonaro

Temático Segurança: Porte de Armas; Pena de Morte; Redução da Maioridade Penal

Desistência de Joe Biden; Declarações de Maduro; Declarações de Tebet

Atentado contra Trump; Cotas na Política; Fala de Lula

Espectro ideológico; Avaliação do Governo Lula; Isenção de Multa para Irmãos Batista

Saúde de Pessoas Trans; Lula e o Câmbio; Indiciamento de Bolsonaro

Aumento para os Procuradores de SP; Descriminalização da Maconha no país; Golpe na Bolívia

Lula no G7; Críticas de Lula ao BC; PL dos Jogos de Azar

Eleições nos EUA; Arthur Lira e o Conselho de Ética; PL 1904

Parada LGBT+; Terceirização da Escola Pública ; Escolas Cívico-Militares

Acusações contra Zambelli; PEC das Praias; Veto à criminalização das Fake News

Benefício Emergencial no RS; Absolvição de Moro; Imposto sobre Importações

Fake news da tragédia; Fala de Eduardo Leite; Fuga de condenados bolsonaristas

SEMANA PETROBRÁS - Privatização, Desenvolvimento e Meio Ambiente

Saídas Temporárias, Condenações de 8/1, Atuação de Presidentes em Calamidades Públicas

Manifestação pró-Bolsonaro em Copa, Novos programas para pequenos empresários e empreendedores; Elon Musk e Alexandre de Moraes

Caso Marielle; Comissão de mortos e desaparecidos; Percepções sobre a ditadura

Taxação dos super ricos; Fraude na carteira de vacinção; Áudios de Cid

Segurança Pública em SP; Nikolas na Comissão de Educação; 60 anos da Ditadura

#Diário Gal Heleno #Economia #Pautas para Mulheres

Manifestação pró-Bolsonaro; Isenção tributária a entidades religiosas; iii) Mudanças nos mandatos

Guerra do Iraque; Vacinação da Dengue; Vídeo de Bolsonaro

#Investigações do Golpe #Fuga dos Detentos de Mossoró

#Aproximação entre Lula e Tarcísio de Freitas #Avaliação de Bolsonaro #Avaliação de Lula

Abin e Alexandre Ramagem; Carlos Bolsonaro e espionagem; Erros no ENEM

Percepções sobre a vida atual, Eleições municipais, Programa

Janones, Declarações de Lula sobre Dino, Indulto de Natal

Falas de Michele, Auxílio a Caminhoneiros e Taxistas, Apoios de Criminosos

#Dados do desemprego no Brasil #Colapso ambiental em Maceió #Disputa entre Venezuela e Guiana

Fim das Decisões Monocráticas, Morte de Clériston Pereira, Dino no STF

#Pronunciamento de Janja #Redução dos custos das Passagens Aéreas #Redução dos custos dos Combustíveis

Militares na Política, Privatizações, Dama do Tráfico no Planalto

#Déficit Zero na Economia #Gabinete do Ódio #Redação do ENEM

Desvio de Armas, Jair Renan na Política, 2a. Condenação de Bolsonaro

Veto dos EUA, Milei, Violência no Rio de Janeiro

GUERRA: Crianças, Resgate de Brasileiros, Conselho de Segurança

Violência no RJ, Fake News da Vacina, Oriente Médio

Inclusão de Pessoas Trans, Grampos de Moro, Conselho Tutelar

Golpismo renitente, Canais de informação bolsonaristas, Gal. Heleno

Rede Globo, Jair Renan, Casamento Civil Homoafetivo

Desfile da Independência, Operação Lava Jato, Desastre no RS

O silêncio de Jair e Michele, Hábitos de Consumo de Informação, Voto Secreto no STF

Zanin, Faustão e a Taxação das Grandes Fortunas

Relatório #19 MED

ESPECIAL: O CASO DAS JOIAS

Tarcísio, Zema, Avaliação 7 meses do Governo Lula

Bolsa família, Laicidade do Estado e MST

Taxação de fundos exclusivos, Marielle e Porte de Arma

Escolas Cívico-Militares, Ataque a Moraes e Desenrola

Tarcísio vs. Bolsonaro, Lula no Mercosul e Aprovação de Lula

Condenação, Plano Safra e Inércia Bolsonarista

Julgamento, PIX e Condenação de Bolsonaro

Julgamento, Cid e políticas sociais

Valores: Marcha, Parada e Aborto

Temas: Zanin / substituto de Bolsonaro

Monitor da Extrema Direita

Os temas da semana são: (1) Investigações sobre os depósitos an